quinta-feira, 26 de março de 2009

Uma crônica para distrair

Capitão Ramiro

Capitão Ramiro era um homem sério, sempre a favor da moral e dos bons costumes. Tinha lá seus 57 anos, um corpanzil parrudo, apesar da barriga dura que chegava nos lugares a frente do seu corpo, não aparentava ser um homem gordo. Cultivava um bigode farto abaixo do nariz de batata, o que deixava sua carranca com um certo ar de militar. Capitão Ramiro era recém aposentado de uma multinacional do petróleo, foi gerente administrativo, gostava de mandar, de estar no controle, tanto que virou presidente da AMORDO, "Associação dos moradores da Orla de Rio das Ostras", sigla esta criada pelo próprio. Ramiro não era Capitão de nada, a nomenclatura foi ele quem fez questão de incorporar ao próprio nome, achava bonito e imponente ser chamado assim: Capitão Ramiro.
Na função de presidente da AMORDO, Capitão Ramiro gostava de ficar passeando pela Orla, vigiando os carros mal parados com som alto ligado, preocupado se bares e quiosques invadiam as calçadas com suas mesas, contando buracos na rua, cumprimentando transeuntes mesmo se não os conhecesse e de assistir as partidas de Futevolei.
Como Ramiro gostava de assistir as partidas de Futevolei! Perdia ali no mínimo 2 horas, admirando os jovens atletas. Volta e meia pagava uma água de coco para a dupla vencedora, isso quando não pagava uma rodada de chopp ao final das partidas. Gostava de conversar com os rapazes, dava dicas, elogiava o preparo físico: " - Danilo, você está com uma levantada de peito perfeita! Como evolui seu peitoral, você tem malhado rapaz?" Danilo sorria sem graça, os outros garotos debochavam e ele desconversava: " - É, tenho malhado também, mas tenho que treinar mais." Ramiro ria da modéstia do esbelto rapaz. Elogiava aos outros também, mas era difícil não notar sua predileção por Danilo. Sua esposa é quem não gostava muito de sua amizade com a patota do Futevolei. "- Não sei o tanto que você fala com estes garotos, você deveria dar mais atenção ao seu filho. Ta na hora de você largar a AMORDO, só pensa na AMORDO, tudo é AMORDO, AMORDO,AMORDO!"
Dona Dalva era 12 anos mais nova que Ramiro. Era baixinha, cabelos castanhos claros com corte Joãozinho, parecia uma sargenta alemã aposentada. Criava Ramiro Filho praticamente sozinha. Mirinho era meio estranho, não era como os outros meninos. Dona Dalva era quem ditava as regras dentro de casa, mas para sociedade era Capitão Ramiro o grande chefe de família, um exemplo a ser seguido. Dona Dalva também trabalhava numa multinacional do petróleo, aliás a mesma em que Capitão Ramiro trabalhou. Trabalhava rigorosamente de 8 da manhã até as 17 horas da tarde. Almoçava em casa todos os dias, levava Mirinho para a escola depois do almoço e voltava para o trabalho.
Na semana do Natal, Dona Dalva estava uma pilha só. Tendo que organizar a ceia, afinal seria na sua casa e a família do Capitão viria em peso, direto de Caxias para passar as festividades de final de ano em Rio das Ostras. Tinha que comprar os presentes, cuidar do Mirinho, trabalhar, enfim, estava esgotada.
No dia 23, numa terça feira, Dona Dalva resolveu sair mais cedo do trabalho, precisava descansar. Decidiu, não voltaria mais ao trabalho naquele dia.
Chegando em casa por volta das 14 horas, estranhou a porta de entrada destrancada. Cansara de avisar a todos para nunca deixarem de trancar a porta. Entrou em casa, passou a chave na porta e quando se encaminhava para o seu quarto no andar de cima, escutou berros vindo do escritório do Capitão. " AMORDO, AMORDO, AMORDO..."Dona Dalva estava farta daquilo, já não suportava o tempo que seu marido dedicava à associação.Dona Dalva partiu em direção ao escritório, iria dar um fim naquilo. Ou a AMORDO ou eu. Quando abriu a porta do escritório viu a cena mais patética de sua vida. Capitão Ramiro de joelhos, nu, em frente ao jovem Danilo, que estava só de calças arriadas. Danilo falava baixo para o Capitão: " O senhor disse que ia só chupar, não morde não!"... e o capitão mordiscava a isca faminto e berrava aos quatro cantos..." Ah mordo, ah mordo..."

Zé Guilherme

Nenhum comentário:

Postar um comentário